quarta-feira, 30 de junho de 2010

A plateia

(escrito a 4 mãos com minha querida amiga Ace)


Quando paro minhas atividades, de repente, sinto vários sentimentos vindo juntos, como uma avalanche. Uma ansiedade, uma pontinha de medo, começo a enrolar mechas do meu cabelo com o indicador. Ah, se eu tivesse diante de um especialista em leitura corporal, será que ele saberia identificar todos os meus menores movimentos, a respiração rápida, a cócega nas mãos, a saliva descendo pela garganta? Meus olhos ardem. Só falta meia hora. Eu fico pensando que elas não vão vir. Quero desligar meu celular por medo que ele vibre e toque e anuncie que a festa acabou. Antes mesmo de ela começar. Tateio meu bolso e pego o celular. Haverá alguma ligação perdida? Faltam menos que 20 minutos. Será que elas vão se atrasar?

-Nossa, você já chegou?

Meu coração bate forte. Não esperava encontrá-lo aqui, assim, tão cedo. Há um minuto eu pensava que toda essa história era um blefe, uma cartada de um jogador ironizando a minha fragilidade. Eu não tenho coragem. Nunca tive. Sou uma cagona, até mesmo para admitir que sou. E estou aqui. Será que ele entende o quanto eu não tenho certeza de nada? O quanto me custa estar aqui nessa situação? Estou superando limites, estou voando mais alto, mas... será?

-Eu sempre chego cedo. Você deveria saber. Onde ela tá? Ainda não chegou?

Tremo quando vejo os dois na minha frente. Parada aqui, de longe olho para os dois, conversando. Quero correr, mas não sei direito em qual direção. Se eu fizer tudo depressa, talvez acabe mais rápido. Mas ainda posso fugir. Porém, caminho na direção deles. Penso que minhas pernas são duas amotinadas, me levando a um lugar em que eu não sei se, de fato, queria estar. Sinto borboletas no meu estômago, como diriam em inglês. E me aproximo cada vez mais. Ele está com aquele sorriso meio dissimulado de sempre. Ela é... ela parece... ela é linda. Ele tem sorte de que ela seja tão conivente. Altruísta? Eu não sei se conseguiria. Observar e não agir... E se eu visse algo que não me agrada? Mas ela parece uma pessoa sensata. Pelo menos foi o que ele me garantiu. Por que não?

- É. Chegamos todos. Tudo bem? Estamos tomando uma cerveja. Peço uma para você?

Com as duas assim, na minha frente, o mundo parece que parou. Não sei bem o que dizer, para onde olhar, como apresentá-las. Pensava em encontrar um lugar comum entre as conversas tão rotineiras que sempre tinha com uma e as tão casuais que mantinha com a outra. E não me vinha nenhuma. Não havia planejado como deveria agir e não me sinto exatamente do jeito que planejei. Meu corpo está anestesiado, vulnerável. Minhas mãos, por baixo da mesa, tremem. Mas meu sorriso se mantém inabalado. É ele a mola que propulsiona todo o resto. Meu celular toca, levo um susto e ele cai no chão. Nesse momento, o silêncio de alguns segundos eternos se quebra e as duas olham para mim. Pego o celular do chão, desligo-o e faço disso uma piada e um bom pretexto para uma conversa. Mas sinto meu rosto queimando.

Meus sentidos à flor da pele, como se cada som me tocasse, cada gesto vibrasse em mim o som grave de um violoncelo. Me falta a intimidade que há no diálogo entre eles dois. E eles nem falam! Só se olham, como se lessem os pensamentos um do outro. Sinto-me invadindo e sendo invadida. Fico calada e isso não combina comigo. Ao mesmo tempo, palavras afáveis começam a me abraçar (devo admitir o esforço que fazem para me incluir na conversa e, assim, me deixarem um pouco mais à vontade), mas nossos olhos brincam de desencontros e fugas, de uma ciranda de olhar-desviar. O incômodo se revela não ser só meu. Queria acabar logo com isso.

-Então, meninas? Podíamos ir, não? Ficaríamos mais à vontade.

Não via a hora. Não queria conversar. Ainda temo que alguma delas desista. Consentimentus fugit. Fazia tanto tempo que não a via, e, ainda assim, meus olhos parecem não ter perdido o costume, nem o caminho. Mas sinto que ela não está aqui por inteiro. Essa timidez repentina até que lhe caiu bem, mas não faz parte dela. Seu silêncio deixa claro que ela não está à vontade. Foi tão difícil convencê-la e, lembrar-me disso me traz a sensação de que, mesmo tendo-as aqui na minha frente, tudo ainda está por um fio. Fio esse que não quero que se quebre agora. Não agora. Não depois de tantas negociações, insistências. Não depois de tanto esforço.

-Vou com meu carro. Te sigo e nos encontramos lá.

Ele não pára de olhar para ela. Afinal, o que ela tem para deixá-lo assim? Não devia ter insistido. Não devia nem ter sugerido. Não devia ter aceito. Sinto um misto de ansiedade e arrependimento, de tesão e angústia. Será que consigo? Uma parte de mim bem que gostaria que ela desviasse o caminho, se perdesse ou simplesmente fosse embora. Mas, não! Já chegamos até aqui.

- Bom, chegamos. Me dá um beijo antes de entrarmos? Você sabe que é a mulher da minha vida, não sabe?

Sempre achei as entradas em motéis excitantes. Mas hoje é diferente. Nunca estive neste lugar tão sozinha e, ao mesmo tempo, tão acompanhada. Se não tive coragem de fugir quando ainda estava em tempo, me resigno, e sei que terei que ir até o fim. Abro a porta e entro. Olho ao redor. Meu corpo treme. Respiro fundo e ganho forças para recolocar minha máscara: vejo-os entrando pela porta, vou na direção dele e, na tentativa bem sucedida de fazê-la desaparecer, me concentro, finalmente, em desvendar com minha boca a textura e o sabor de sua pele. E gosto. Muito.
Não ouso abrir os olhos, mas percebo que nada se move, o corpo dele que antes havia se tensionado vai se soltando lentamente e agarrando minha cintura.

Ela o beija e ele ardentemente retribui a atitude. Vejo os corpos deles cedendo e se tocando e sinto que minha face está em chamas. Não consigo me mover. Mas quero. Sinto uma vontade louca de gritar, de terminar tudo, vejo sangue, minha respiração fica irregular. Será que vou desmaiar? Respiro fundo e consigo recuperar um pouco do ar. Parece que estou naquela posição, ali, aparada e indefesa por horas, mas deve ter sido apenas alguns segundos, pois o beijo continua, quente, barulhento. Retomo um pouco do meu autocontrole e dou um passo, tímido, depois mais um. Me afasto da porta e procuro algum lugar em que possa sentar. Penso em pegar meu celular e penso em, disfarçadamente, filmar aquilo para depois expô-los. Não. As coisas não podem funcionar desse jeito.

Fico lutando com meus sentidos. Tento ouvir tudo que acontece ao meu redor e saber o que ela faz, quero abrir os olhos e sentir o seu olhar. Porém, nada disso pode dar conta de me distrair do influxo de sensações que meu corpo vai me dando. Minhas mãos vão ganhando vida e vão percorrendo novas terras, desbravando curvas e me transformando num mestre do tatear. Eu aperto meus olhos e, na escuridão na qual eu mesmo me coloco, eu crio coragem e vou me entregando. Vou me esquecendo dos limites. Sinto que quase posso uivar. É animal, é primitivo, mas é calculado.

Sinto sua mão tocar meu corpo por debaixo do tecido, como se quisesse entrar na minha pele e, pelo tato, consumi-la. Meu corpo se aquece e arde. Lentamente, conduzo-o contra a cama e ele se rende, caindo subitamente sobre ela. Em resposta a um sorriso largo, enlaço-o com minhas pernas e sento sobre seu corpo. Desabotoo sem pressa cada botão de minha blusa, revelando lentamente a lingerie escolhida há dias. Sinto-me inteira, como se, ao despir-me, acrescentasse a mim a roupagem que me faltava. Levanto sua camisa e levemente toco sua pele com a minha: aprecio sua temperatura e sinto contra meu peito sua respiração rápida, ofegante. Tenho-o rendido aos meus caprichos e sigo beijando cada centímetro que separa, cada vez menos, minha boca do botão de sua calça. Ao chegar a meu destino, revelo sua nudez com as mãos, enquanto, mesmo fechando os olhos, vejo as curvas e volumes revelados através da brisa que crio ao expirar, e que volta contra minha face, como um sonar. Perco o controle sobre mim mesma, abro os olhos e acaricio seu pênis com minhas mãos e boca, provocando-o com meus movimentos e sentindo-me cada vez mais excitada.


Aqui, hipnotizado com seu delicioso veneno, sinto-a mover-se como uma serpente. Meus pensamentos colocam-me dentro e fora de meu corpo ao tentar imaginar o que vê e sente ela - sentada na cadeira, não perdendo nenhum movimento - enquanto outra está colada ao meu corpo. Mas um pensamento de repente me invade: não posso ficar aqui, imóvel! Levanto-me e surpreendo-a com toda minha gula em forma de despir, tirando sua roupa, peça por peça. Retomo um ritmo de corpos apertados, mãos traiçoeiras, rapidez, força, ação-reação. Sou eu, eu quem deve estar no controle e subjugar; eu comando.


Sentada aqui, tão perto e tão longe dele, experimento uma sensação completamente nova. Imaginei este momento por muitas outras vezes, mas, o que sinto agora, nunca tinha sentido antes. Mesmo sem conhecê-la, já a havia incluído em muitas de minhas fantasias, mas sempre com um pouco de mim naquela imagem. Não me vejo na imagem a minha frente e penso que fui traída pelo meu desejo. Sinto muita tensão, uma angústia. Olho para aqueles corpos e o tanto que eles agem de modo descontínuo, imprevisível. O quarto se aquece. Os gemidos, o som de seus corpos roçando os lençóis, as mãos que se entregam aos caprichos ora de um, ora de outro. E eu aqui: olhando. E olho, e olho... E vou me deixando levar. De repente, meu olhar se encontra com o dele. Queimo. Minha tensão vai se dissipando e começo a compreender meu lugar nesta cena: apesar dela, é minha presença que o excita. Seu olhar diz isso pra mim. Que sou eu quem está ali. Sempre. Aquilo que vejo, finalmente, se aproxima daquilo que desejei e meu corpo responde com um turbilhão de sensações, como se cada carícia trocada fosse sentida em mim. Meu corpo arde em fogo e geme, estremece, contrai-se. Mas o desconforto luta para se manter ali. O medo e a insegurança me fazem segurar firme nas bordas da cadeira. Quase já não sinto as pontas dos meus dedos. Quero gritar, sinto-me impelida a tirá-la dali. Não posso. Respiro fundo, e tento não deixar de respirar.

Sinto que ele finalmente despertou. Seus movimentos se tornam mais intensos, mais dirigidos. Meu empurrãozinho deu certo. Agora é impossível parar. Como um tornado, uma tempestade, sua boca vai sugando tudo, uma força incontrolável da natureza, vamos nos entregando, nos livrando das barreiras e dos pensamentos. Calor. Sede. Sinto suas mãos procurando, descendo pelas minhas costas num misto de carinho e violência e eu sinto minha pele cedendo à sua força. Sem sutiã, meus cabelos cobrem meu rosto, o que me faz fechar os olhos por alguns segundos, já pensando o quanto seria ruim abrir e ver o que estava acontecendo. Não, eu não conseguiria ver e ficar parada, não conseguiria observar sem me projetar, tento pensar nela, mas já não consigo mais controlar meus pensamentos. Apenas o prazer me dirige.

Me sinto livre. Jogo minha cueca num canto e a nudez não me assusta. Meu corpo é minha ferramenta, ele ressoa ao toque dos meus comandos, afinado. Sinto que estou todo molhado, o suor vai me deixando aderente, sinto as gotas correndo pela minha testa, pelas minhas têmporas, pelas minhas costas. Percebo que ela está um pouco assustada. Acho que ela não esperava que meu pinto fosse ser do jeito que é. Provavelmente ela esperava menos. Deve ter dado azar antes. Mas não sinto medo nela. Ela parece apenas surpresa, mas feliz. Sinto os dedos dela segurando meu pau e movendo pra frente e pra trás, de uma forma pouco ortodoxa. Mas sinto que ela segura com orgulho, aperta e solta, aperta e solta, sem parar os movimentos. Beijo seu pescoço, dando pequenas mordidas no lóbulo e gemendo na sua orelha. Beijo sua nuca e respiro profundamente, pesado. Procuro com minhas mãos afastar o elástico da sua calcinha, que teima em continuar ali. Sinto meus dedos dobrarem numa posição desconfortável e vou tateando com dois dedos, afastando, mas sinto que ela força uma coxa contra outra. Ainda não é a hora, eu penso.

Vejo o corpo dele nu e sinto seu cheiro invadindo minhas narinas. Ouço cada gemido que eles produzem como pequenas agulhas pelo meu corpo. Eu me pego quase sem respirar. Sinto minhas pernas amolecerem e mexo meus braços duros. Eles parecem pesar cem quilos cada. Percebo que quase estou presa nessa cadeira, como se a gravidade deixasse de existir, ou que ela me impedisse de qualquer movimento. Um olhar de relance no espelho sob a cama e percebo meu olhar de espanto, minha incredulidade de que aquilo esteja realmente acontecendo. Sinto as agulhas, mas elas vão deixando meu corpo quente. Deslizo minha mão direita pela minha coxa e sinto que estou molhada. Sinto uma vontade de ser tocada.

Abro os olhos e vejo-a lançando sobre mim um olhar que não consigo descrever, nem desvendar. O que estaria ela pensando agora? Não devia estar aqui, eu sabia que não deveria ter vindo. Mas o ardor intenso do prazer que se movimenta em mim me preenche. Meus músculos respondem aos mais variados estímulos com vigor e ardência. Sinto o peso do corpo dele sobre o meu, seu quadril pressionando seu pênis contra minha coxa, enquanto meus mamilos são estimulados pelo vai e vem de sua língua. Com as mãos, abaixo minha calcinha até onde meu braço alcança e ele a retira completamente, jogando-a em um canto qualquer. Estou nua. Ele beija minha coxa e virilha, e eu me rendo completamente. De olhos bem fechados, entrego-me ao prazer e ao desejo. A presença dela não causa mais incômodo.

Tê-la, assim, completamente nua em minhas mãos. Sentir seu cheiro, seu gosto. Inspiro profundamente na tentativa de guardar em mim esse momento, tudo que estou sentindo agora. Deslizo minhas mãos, meus lábios, minha língua pelo seu corpo e me coloco novamente sobre ela. Meu pênis toca suas coxas e ela as abre lentamente. Olho para o lado. Ela segue sentada na cadeira. Dou um sorriso e, por um segundo, penso que tudo aquilo não está acontecendo de verdade, que é tudo um sonho do qual vou acordar mais cedo ou mais tarde. Vejo-a sentada e olhando para nós de modo enigmático. O que estaria ela pensando? O prazer que projeto nela intensifica ainda mais aquilo que sinto. Meu pênis dança, procura caminhos. A hora é agora.

Ele me olha. Com a respiração cada vez mais profunda, vou me deixando levar pelo turbilhão de sentimentos que me invade e sinto como se toda minha energia estivesse canalizada, neste momento, em meu clitóris. Uma mão ainda segura firme a borda da cadeira enquanto a outra se mantém entre minhas pernas. E sinto como seria bom ser tocada agora. Bem assim...

Sinto ela toda úmida. Meu dedos mapeiam a região desconhecida como se nunca dantes. Desfecho um único golpe e a penetro de uma vez, sem avisos, sem dó. Vou sentindo meu pinto se enterrando nela, e forço pra que ele entre mais fundo. Sinto o corpo dela se arqueando sob meu peso e minha fúria. Eu não consigo conter um sorriso e suspiro no seu ouvido, quase como um gemido: calma! Sinto ela lutar comigo, mas vou dominando cada fibra do seu corpo, vou me fundindo, entrando na mesma sintonia. Ela vai arrefecendo. Ela se entrega. Eu vou fazendo leves movimentos, enquanto afundo meu rosto nos seus cabelos. Vou me colocando mais fundo, mas sem forçar demais. Já fui aceito e agora posso me movimentar com mais delicadeza. Sinto meu pinto abraçado por um calor, o vai-e-vem começa a chapinhar. Como ela está úmida! Seguro seus peitos e os beijo, mordendo levemente os mamilos. E olho para o lado, na cadeira, para ela. Seu olhar encontra o meu e eu enrijeço. Titubeio. Mas seu rosto marcado se desfaz em um sorriso de anuência. Como uma onda atingindo a praia. Vejo que sua calça está desabotoada e sua mão está dentro dela.

De onde estou, posso ver perfeitamente seus corpos diante de mim. Ao vê-lo penetrar-lhe, sinto a ardência como se todo aquele prazer invadisse meu corpo em uma explosão incontrolável. Não consigo me conter, como se minha mão não mais me pertencesse e transferisse a mim toda troca de carícias, toda imprevisibilidade, todo ardor da cena em frente a mim. Meu corpo se contorce, meus músculos vão se enrijecendo, e sinto o prazer angustiante que antecede o gozo. Que vem e me larga contra a cadeira, com os braços e pescoço amolecidos, a pálpebra fechada e um silêncio ensurdecedor que passa a ignorar todos os gemidos ao meu redor.

De repente, me sinto carne. Só carne. A violência no vai-e-vem inicial me paralisa, me contrai, me incomoda. Sinto-o entrar em mim como uma faca que rasga meu peito, furando minha alma, partindo-a ao meio e expelindo-a de mim. Só então me apercebo da guerra que se trava entre nossos corpos. E seu pedido de paz, sussurrando ao meu ouvido: "calma". Não quero calma! Quero devorar-lhe, sentir-lhe me invadindo e deixando, com isso, parte de si em mim. Quero, pelo movimento do meu quadril, sugar dele todo o prazer no deslizar daquele membro que me penetra e me queima. Daí, na medida em que o ritmo de nossos corpos se dissolve, luto para não me entregar completamente ao prazer. Esse maldito prazer que me liberta, mas me encarcera.

Pensamentossedissolvemcomoareiaaobateraondaeeujánãoconsigomaissaberondestou
tudosemesclanumaexplosãoquecomeçanaminhavirilhaejorraeesparamaparacadapartedomeucorpoe
aspalavrassedesfazemeosespaçosviramespasmos.

Eu. Dor. Sinto. Calor. Louca. Sangue corre. Voa. Ah. Uhn. Meu Deeeeeeeeuuuuuuus.

Ouvir os gemidos que viram gritos, meus dedos doem e as lágrimas descem uma a uma enquanto vou me sentindo como nunca antes, num prazer meu e deles. Ninguém me toca como eu e as lágrimas cessam enquanto eu arqueio e sinto meu corpo todo tremer e gritar de prazer.


Mal consigo me sustentar ainda. Espasmos retardados me fazem sentir em menor intensidade, mas ainda, o doce gosto da gozada que acabei de dar. Me sinto exausto, mas leve. Um zumbido no meu ouvido. Me largo na cama. Será que devo abraçá-la? Não ouso abrir meus olhos. Não ouço nenhum barulho e isso me assusta. Nem mesmo a respiração dela. Nada. É como se tudo tivesse se extinguido ao chegarmos ao ápice. Abro um olho. Ela está na cadeira, lívida. Será que está chorando? Nesse segundo sinto um movimento brusco do meu lado. Ela se levanta e se afasta. Não consigo ver seu rosto. Será que ela está sorrindo? Por que imagino um sorriso de escárnio ali? Ela se abaixa e pega suas roupas, procurando aqui e ali.

- Você quer beber alguma coisa?

Para falar a verdade, não quero. Mas respondo que sim, meio que sem pensar muito. Já estou imóvel há alguns minutos, catatônica, em um pensar sem-pensar que diz... Sinto meu corpo nu de uma nudez estranha, de uma pele crua, presente e translúcida. Como se tudo que eu sou estivesse sendo, neste momento, desvendado pelo olhar alheio. Cubro-me com o lençol.

-Eu também quero.

Desvio o olhar por um instante. E realmente quero, não necessariamente a bebida. Quero, por exemplo, entrar em cena, minha cena, minha vez. Me levanto e vou até o banheiro. Fecho a porta, observo minha imagem no espelho. Dou um sorriso maroto.

-Obrigada.

Sento, pego o copo na mão e o coloco ao lado, na cabeceira. A ausência dela ainda se faz presença, no vazio da cadeira, no ar, no pensar, no silêncio, no incômodo, na expectativa de que logo retornarão do banheiro: ela e seu olhar. Nua, invejo e cobiço, por um instante, o lugar do observador.

Vejo-me aqui, com ela ao meu lado, e minha cabeça gira. Tento recordar todos os movimentos e sensações há muito pouco vividos, como se não quisesse deixar escapar nada daquilo. Mais uma vez, o silêncio. Não sei exatamente o que dizer a ela. Ficamos uns instantes em silêncio. Penso em soltar uma piada, ou algum comentário qualquer, só para quebrar o incômodo silêncio. Mas nada me vem à cabeça. Somente eu e ela, e ela, ali, há pouco. Olho para seu rosto. Ela está distante, pensativa. Queria invadir seu pensamento, saber o que pensa. A insegurança me invade de novo. Penso em perguntar se aquele tom agudo de seus olhos deveriam significar alguma coisa para mim. Mas não encontro as palavras. Apenas olho. E olho. E olho... Ela, assim, tão nua, tão perto, tão distante, tão linda. Desejei-a com ardor e com mais ardor a tive. Mas não a tenho, de fato. Ela, neste momento, não me olha. Se arrependeu, talvez? Impossível! Ou seria possível? Sei lá. Nunca sei, ao certo, o que ela está realmente pensando. Gosto disso nela. Encosto, de leve, em seu cabelo. Ela olha para mim, sorri e fecha os olhos.
Por que será que ela não volta? O que será que ela está fazendo lá, sozinha, naquele banheiro? Lembrar-me dela me causa certa angústia. O que será que ela está pensando agora? Sinto-me, mais uma vez, vulnerável, refém. Deveria ir vê-la, talvez? O que está acontecendo?

- Já venho, ok?

Ele entra no banheiro e eu entro em mim. Olhando para mim mesma, por aquele espelho de teto, retomo meus objetivos ao ter aceito este convite e me sinto bem comigo mesma, agora que estou aqui, sozinha novamente. A apreensão do início foi embora; enfim, o fim. Ou seria o começo? Penso que logo abrirão aquela porta e sairão do banheiro, mas a expectativa dos olhares não me amedrontam mais. Eles não podem levar embora minha alma, meus pensamentos, minha satisfação. É. Estou inteira.

- Tudo bem? Posso entrar?

Entro no banheiro um pouco apreensivo. Vejo-a em frente ao espelho e agarro-a pela cintura. Ela olha para mim e sorri, e não é preciso dizer mais nada. Beijo-a longamente e sinto o conforto e o prazer de me aproximar, de novo, daquilo que é familiar a nós.


Com ele aqui, me sinto segura e completa. Meu corpo arde em desejo e colo meu corpo no dele como se quisesse fundi-los em um. Desejo, agora, mais do que nunca, tomar aqui o lugar dela, ser ela, mas sendo eu. Penso naquele banheiro como um oásis no deserto. Um pequeno espaço habitado por apenas dois, com água e sombra fresca, acalanto e intimidade, brisa e ardor. Ela, em pensamento, torna-se novamente presença, mas agora em ausência. Mas concordo com ele que é preciso sairmos dali. Me convenço de que valeu a pena, apesar das angústias vividas ali. Ele voltou a mim. Ele é meu. E isso me basta. Pego-o pela mão, abro a porta, um pouco receosa. Imagens daqueles corpos em ardência me invadem, e a tensão da insegurança se funde novamente com o tesão. Gosto dessa sensação e sigo os passos a diante.

Para minha surpresa, e alívio, ela não está mais ali.

- Enfim, sós.

- Enfim, nós.

Ele me abraça e eu me sinto protegida. Nosso abraço é longo e quente. Ainda pareço sentir o cheiro que não é dele ali, mas vou me fundindo ao seu corpo nu e sinto sua respiração nos meus cabelos. Sinto seu corpo se afastar do meu, ainda que ele mantenha os braços ao meu redor e sua cintura colada na minha. Ele me olha e abre um sorriso, a princípio tímido. Sua boca se aproxima da minha, como ela sempre costuma fazer, mas parece agora outra boca, parece que todos os nossos gestos de carinho ganharam um novo significado. Ele me beija ardentemente e eu volto a sentir pontadas e calores. Ela já não existe mais. Vou me largando na cama, enquanto seus braços fortes vão tirando a minha blusa. Ele é meu, mas ele é outro. Eu o amo.